POEMA

TESTAMENTO


Abre os olhos - o sol é teu.
Mergulha as mãos - a água é tua.
Deixo-te o sol, o mar o céu
que poisa no beiral da nossa rua.
E os trigais do dia que desponta
e as flores da terra que me cobre.
Toda a riqueza milenar, sem conta,
de mais um poeta pobre.

Deixo-te as palavras que não gritaram
estranguladas pelo nó do medo;
e as outras, fuziladas, que tombaram
nos pátios do degredo.
E os sonhos por abrir; hoje, no sono
dos séculos que chamaram eterno.
Toda a Primavera, todo o Outono,
das minhas árvores de Inverno.
E a luta que fundiu meu coração
num canto que sangrou certeza:
depois de mim virás, ó meu irmão!,
mais claro e mais limpo de tristeza.


Luís Veiga Leitão

3 comentários:

Justine disse...

A luta, contínua, sem concessões nem tréguas!

Olinda disse...

Sonhar a terra livre e insubmissa

Graciete Rietsch disse...

"Até mortos vêm ao nosso lado".
Obrigada, Veiga Leitão.

Um beijo.